Thursday 25 August 2016

O sal da Terra

Há muito tempo, muito ... "era uma vez" uma Revolução de Abril.
E contra a liberdade, abrangência possível e ideais, ou se sim ou se não, houve um movimento contra-revolucionário que não me apetece discernir/explanar aqui.
Mas falava-se nas "mocas de Rio Maior", barricadas com elas, e no que fariam aos vermelhos "en passant", sendo que vermelhos constituía um grande grande grupo que abrangia desde a extrema esquerda, os comunistas of course my horse, até muitos socialistas.
Havia, antes de haver auto estrada, a recta de Rio Maior, uma estrada a direito entre belos pinhais onde os acidentes eram sempre terríveis, ou não fossem os portugueses "gajos de assapar" no acelerador sempre que lhes fosse oportuno.
Uma das anedotas/ditos que corriam nos anos 60 era uma em que o construtor dos Lamborghinis tinha perguntado "o que era isso do Porto": sendo que, em determinada época, tinha sido a localidade que mais automóveis de luxo tinha importado de Itália, cinco, se não me engano.
Em 1968 passávamos lá e tivemos um furo no pneu do Mini alugado, debaixo duma chuva impiedosa: valeu-nos ter dado boleia a um "magala" que nos ajudou.
E Rio Maior ficou ignorada, para mim, a não ser depois de bem crescidinha e de me picar a curiosidade. A salvo, a pele inicial.

Portanto, era tempo de decidir lá passar, dando ouvidos a dizeres de outrem. Nestes entretens de ir, era hora de almoço e provámos um abundante e belo cozido das carnes afamadas da região. Sem apanhar "mocada" que o preço era acessível. E não vi mocas nenhumas "en passant". Nem a contra revolução é já o que era... cruzes, isto é mais bancos e produtos afins dos capitais.

E fazendo a digestão, lá se encontraram as salinas! Um estendal branco, na terra e na serra.

Há documentos que referem as salinas desde 1177 mas calcula-se que já na Pré-História se aproveitaria o sal-gema. Trata-se de uma das várias correntes subterrâneas de água que, passando na Serra dos Candeeiros cuja formação é de natureza essencialmente calcária e porosa, encontra uma jazida de sal-gema, eventualmente formada há milhões de anos depois do mar, que ocuparia toda a região, ter recuado.
É muito bela, a pedra, a areia branca, o brilho, as formas dos cristais.

As casas onde os salineiros guardavam o sal foram conservadas, embora agora só sirvam de adorno, dado que ele é encaminhado para uma cooperativa e distribuidora/exportadora.







Deste poço se retira a água que é distribuída pelos vários tanques para sofrer a evaporação ao sol. Dizem que é 7 vezes mais salgada do que a do mar, pela elevada concentração de sal. Provei: é incrível!

Uma pegada no sal. A chamada Flor de Sal é uma película finíssima de cristais que se formam à superfície da água retida nos tanques, em dias de muito calor e sem vento. É recolhido preciosamente porque é muito apreciado na "nouvelle cuisine gourmet". Dizem que, biologicamente puro como é, realça o sabor dos alimentos.
As fechaduras das pequenas casas de madeira possuem um sistema de abertura único, com chaves também de madeira. Não há duas chaves iguais neste engenhoso sistema.



Os suportes laterais das "casinhas" são troncos de oliveira.
Um sal puro e biológico, a 30km do mar! Com o encanto das coisas naturais que rodeiam este lugar, diria eu, "bastante mágico".

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