Wednesday 29 November 2017

Serpa V - Para Aracena

Como "era já ali perto..." nada nos preparou para um caminho longo, mas que valeu a pena.


Aracena: uma pequena cidade com algo de mourisco, aninhada num parque natural, área protegida, entre a Serra Morena e Picos de Aroche.



As grutas ficam mesmo por baixo das construções, com uma entrada tipo museu "mas descendo" logo a seguir, 

A descrição remete-nos, mas vagamente, para o mundo alucinante nas profundezas, das abóbadas e vales, das rochas de formas caprichosas, e água, com vários níveis e "salas": só vendo e escutando.
Uma fila de gente teve de esperar pela saída de outros e, para minha desilusão, era proibido tirar fotografias. Percebi depois porquê, quando os fotógrafos "encartados" nos tiraram fotos e as ofereceram, à saída, por um valor exorbitante. De resto, há postais e variadas lembranças nas lojas à volta. Mas é evidente que tive "de comprar" uma, saindo com caras de toupeira e meios curvados...




Portanto, eram grutas de maravilha, sim, com passagens e efeitos de luz fantasiosas. Um destino turístico de que nunca tinha ouvido falar! Em vez de se fazer o mesmo caminho de volta, seguimos para norte,





sabendo que "lá", onde se põe o Sol, é a caminho de Portugal e o seu mar Atlântico. Não há que enganar! Mas só depois com o mapa, se viu a volta que se deu,


E não sei que me deu para lembrar, agora mesmo (tantas outras ocasiões há...), a "Nau Catrineta" do meu liceu:
"Acima, acima gageiro / Acima ao tope real / Olha se enxergas Espanha / Areias de Portugal."

tentando entrar por Barrancos e espreitar um monumento, ou ruína dele, que me andava há anos a tentar. 

Pergunta-se, está a escurecer na raia, por trás dos montes: "passando esta ponte, é logo ali!" e eu, esperançada...
Sem mais indicações e por um caminho onde até era difícil dar a volta, a noite enegrecia tudo e parecia respirar como gente ou animal, quando se parava: ficou-se entre pedras e ameaças escuras, sabe-se lá onde ???, e voltamos para Barrancos, deserta. Tivemos sorte em comer um pão e chouriço, num café, que restaurante não foi.



Tuesday 28 November 2017

Serpa IV - Relógios improváveis

Como tudo o que vale a pena, as histórias entrelaçam-se, no gosto e no encontro.
António Tavares de Almeida (1948-2012) recebeu uns relógios antigos dos seus avós. Desde 1972 que se dedicou a encontrar e a reparar nas suas oficinas, toda a espécie de relógios, vindos de muitos lados do mundo. Reuniu exemplares que vêm desde o ano de 1630 até aos nossos dias.
Pelo que li, o seu filho continua a espantosa colecção. O Museu foi aberto ao público em 1995: é encantatório de ver e num espaço muito bem arranjado. Sem sequer tentar ler e ver tudo (são 2400 exemplares), admirei a arte e as formas do tempo:



Como eu gosto de relógios de cuco, de portinha que se abre...
e, algures, nestes despertadores, está um exemplar igual a um que tivemos. A propósito de que me lembro duma coisa divertida: nas mocidades dos 20 anos, e quando às 7h da manhã em ponto tínhamos que (já) estar a trabalhar, metia-se o despertador dentro de uma panela de metal para que a vibração e o som nos acordassem!



Ah... e estes das figuras Arte Nova, pedindo uma lareira inglesa para se mostrarem,


ou este, deverá ser dos anos 50; há algures alguém, em alguma casa perdida no tempo, que tinha este género de relógio de que eu me lembro, em pequena.

Em diálogos com "as meninas" simpáticas que conversaram e facultaram todas as informações, acabou-se por descobrir um lugar que não estava no programa: as Grutas de Aracena... ali adiante... que para a gente do interior, é tudo "ali adiante"!

Depois de deixadas as muralhas elegantes que abraçam Serpa, no caminho, a igreja velha de Vila Nova de S. Bento, onde nunca parei mas sempre me chama os olhos: imponente na sua simplicidade,  e solitária.
O gado na água...
Revisto o trajecto, horas de passar em Moura, almoçar e andar, mais além.
Em Moura, ou nesse Alentejo-longe, tudo se repete.
E não!


Aqui estamos, melhor vendo, melhor apreciando; e o sol da manhã é outro.


Manhã é como quem diz, eram horas de almoço, num lugar a que voltamos, pela afabilidade, comida e preços, bons. A sopa de cação, para mim irresistível, o grão e a sericaia


De conforto feito, ruma-se a Espanha, curiosos.