Wednesday 14 November 2018

Caminhos de Santiago III - Para Soutelinho da Raia

O que iria acontecer sempre nesta viagem: levantar-se pela manhã(zinha) e estar de partida bem cedo. Em direcção a Montalegre, o primeiro dia de marcha, quantas horas de caminhos entre montes, vales e aldeias...

De Casas Novas, de saída, a vista
A caminho de Soutelinho da Raia e, a pé, em direcção a Vilar de Perdizes
O tanque comunitário onde se lava e bate a roupa na pedra, nem quero imaginar no Inverno...
As fotos dos mesmos momentos por MM. O ar parecia de vidro, nessa manhã:



Na passagem pela aldeia






Pensei nas pessoas mais velhas, naquele lugar tão tão longe dos centros urbanos, a sua solidão, as suas doenças e dificuldades.
Com uma fotografia idêntica, escreve a minha companheira de jornada, MM:

"Tão sozinha me pareceu na distância do meu olhar de peregrina por caminhos desconhecidos. Negras as vestes sobre o seu corpo de mulher, como estátua a vi, esculpida por artesão de um lugar de silêncios. Vértice de ecos antigos, perdidos alguns, resguardados outros na dureza da pedra ou no encantamento da memória, dispersando-se ainda outros na voragem dos dias por preencher. Naquele ermo pardacento, apenas o vermelho da caixa do correio pendurada na ombreira de uma porta fechada. Como coração que se recusa a morrer dentro de vida amortalhada."
Uma ideia que eu teria se fizesse este muro (não este de cimento, triste): deixar o tronco velho, um belíssimo e seguro enfeite



Ao fundo, a serra do Larouco, o festival das urzes pelos caminhos. Neste, a guia apontou-nos a marca na terra de uma pata de lobo e disse-nos que "os lobos nunca andam pelo meio dos caminhos" mas sim nas bordas deles. Lembrei-me de como por vezes andam furtivas e cautelosas as gentes.


uma água a correr




1 comment:

M. said...

Quase uma aldeia fantasma, não fossem as mulheres que encontrámos entre casas de silêncios e abandonos.