Saturday 19 January 2019

Açores - S. Miguel 10

Vacas: não sabia por que lugares tinha visto, nas viagens de todos os dias, aqui e ali, as vacas na estrada.


Volta: o pessoal tinha bailado à noite, pareciam condenados a divertir-se, a gozar, à hora. O despertar foi às 5.15h da manhã... com o pequeno almoço dos estremunhados. De novo pelas curvas, até ao aeroporto. Manhã cedo e mar de nuvens,
e duas horas depois, as faces da minha terra

Já por cá, nas minhas andanças, encontrei uma referência ao padre (Dr.) Gaspar Frutuoso. Escreveu 6 livros de crónicas, nos finais do séc. XVI. Originais sujeitos a vários acontecimentos, ora desaparecidos, ora nas mãos de particulares. Conservam-se agora na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, tendo sido estudados e posteriormente editados. Um manuscrito de 6 volumes, com a descrição e apontamentos sobre fauna, flora, gentes e hábitos, de todas as ilhas da Macaronésia: Açores, Madeira, Canárias e mesmo Cabo Verde...
Chama-se "Saudades da Terra". E retirado do google, aqui transcrevo uma parte de um dos livros sobre S. Miguel, que achei particularmente bonita e esclarecedora.
***
"DE UNS QUEIXUMES QUE FAZ A VERDADE, ESTANDO SOLITÁRIA EM UMA SERRA DA ILHA DE S. MIGUEL

Engeitada nasci no Mundo, triste, sem ventura, e logo de pequena comecei ser desestimada por esta tacha.
...

Não entendo a linguagem das gentes, nem me entendem. Ouço tantos vasconços disfraçados, vejo disfraces novos vasconçados; sendo eu tão clara, fico obscura e triste.
Nos desertos trajos brancos e a boca aberta trago, mas, se a povoado vou, doutra cor me visto; cadeado mourisco que por dentro fecha os beiços nela levo, com silêncio dissimulando falas e obras mentirosas, que, se as reprendesse muito mais do que agora sou perseguida fora."
***
E eu dizendo e pensando:
Donde, nada de novo à face da terra, pois há já mais de 500 anos que a Verdade se queixava de maus tratos!

Açores - S. Miguel 9 - Ribeira Grande

Parámos bem no centro da Ribeira Grande, eu com vontade (e apontamento) para ver a Igreja de Nª Sª da Estrela, ao cimo de uma escadaria. Fechada. Toca a andar para o ali ao lado chamado centro histórico. Muitos ficaram parados sentados nos muros, pediam para tirar fotografias, ora este, ora aquele. Lá fui eu, descendo até ao mar, seguindo a ribeira, entre flores e muros pretos. Havia sol radiante.
Anteriormente ermida, a Igreja do Espírito Santo, séc. XVI, pequena mas imponente, que li tinha retábulos e painéis da época: fechada também, portanto

Edifício da Câmara Municipal, muito elegante


A tal Igreja de Nª Sª da Estrela, séc. XVI com várias reconstruções posteriores

Pelas voltas


jardim aprazível, árvores de cabeleira

As maravilhosas estrelícias, conhecidas com propriedade pelo nome ave-do-paraíso



Mesmo à beira mar, a Ponte dos 8 Arcos e a Ribeira (não lhe encontrei o nome!) com os seus efeitos de quedas de água




Um lugar bonito, bem arranjado



E vamos indo...

Friday 18 January 2019

Açores - S. Miguel 8 - Miradouro de Santa Iria e Lagoa do Fogo

Ainda a tempo de parar no Miradouro de Santa Iria e notar os nomes dos lugares e caminhos, tão esquisitos, que apetecia seguir por eles... Escalvado, Ermo, Garça, Guarajau, Pirâmide, a minha cabeça rodava de um lado para o outro!

Que faz esta árvore sozinha mirando o mar?

As rendas, as tonalidades


São iguais? Em momentos diferentes, basta um pouco mais de luz...

Pela noite, descansar, reunir as informações, as comidas em grupo, de emaranhado de massa e bolas de carne como borracha, não têm grande história.
***
O dia a seguir era o 25 de Abril: estávamos deslocados! Nós, em falando, contundentes sobre a liberdade - pelo menos, ora essa!!! - não tivemos discussões mas vimos desagrado, ou falta de sorriso, em muitos semblantes. Mas como a Câmara distribuiu cravos vermelhos, algumas pessoas traziam-nos na mão.
Fugimos dos encontros. Perguntámos se podíamos ligar o jacuzzi que tínhamos visto nas traseiras do hotel: que sim. As águas tépidas daquelas terras deram-nos boa disposição e logo se nos juntaram "democraticamente" dois colegas da excursão, para falar das suas vidas. Muito gostam as pessoas de falar!
Saída para passar por Vila Franca do Campo e subir par a Lagoa do Fogo. A misteriosa lagoa no centro da ilha e que ocupa o complexo vulcânico da Serra de Água de Pau.


Ao longe, o hotel e as praias




Num repente o azul, num repente a névoa. Daqui sairá um ribeira em direcção da povoação da Ribeira Grande
Andava o nevoeiro com as suas asas de veludo húmido, pelas veredas, pelos desfiladeiros

Julguei haver areias negras de lava e eram areias brancas? na água verde azeitona
Misteriosa e deslumbrante. É Reserva Natural desde 1974, será uma reserva do 25 de Abril? Lembro-me que andavam com a "independência" às voltas, que manipulação teria havido? Até me custa recordar/falar/pensar nisso, a FLA, Frente de Libertação dos Açores (Separatismo, Nacionalismo, Anti-comunismo), fundada em 8.4.1975; se procurar informações há-as relativamente recentes. Um susto.
É certo que o continente não é lá muito bem cotado (nessa ocasião 2006, já passaram 13 anos...), as pessoas são um bocado ariscas, a fala difícil. As belezas e potencialidades daquelas terras tão fertéis e lindas só são notícia cá pelos piores motivos, acidentes, tremores de terra, enxurradas. O leite (dizia-se que se contava quase uma vaca por habitante!), os queijos de mil sabores, o peixe, as frutas, as tradições. Viramo-nos para o "turismo" sem aproveitar as trocas que poderíamos fazer equilibradamente com a terra nossa. Estamos tão perto e tão longe!
Algures, a zona das Caldeiras, a Caldeira Velha de piscina e águas termais. Não se parou - também não se lancha mas eu devoro paisagens...






Sem conseguir pôr as fotografias lado a lado, parecem-me idênticas, sigo as horas a que foram tiradas algumas. Fico espantada com a diversidade de cores, sol aberto, sol fechado.