Thursday 16 August 2012

Reclamação arrastada (há meses)








Não é costume nem este é o sítio - das minhas coisas à solta!
Há sítios próprios para desabafar e reclamar (haverá?).
Mas estou farta, há meses que estou farta e enredada em papeis e burocracias, ele é nas finanças, ele é nos registos, ele é nos "sistemas de saúde", ele é no banco estadual, ele é nas companhias das águas, dos telefones, das electricidades...
As "caixas" são centros de saúde ou pólos ou associações fantasmas não sei de quê, ou seja, de subsídios combinados entre os cangalheiros e "elas", as caixas, as previdências.
As "finanças" são AT, chamam-se "autoridades tributárias e aduaneiras", mesmo que eu não seja importadora ou exportadora de nada que passe pelas alfândegas. E os meus tributos estejam todos em dia.
E os ptacs, os "porvires".
Vai-se a uma repartição (será repartição ou pólo?) e enfileira-se. Depois, a pessoa entronizada pelo estado que eu sustento, entrincheirada atrás dum balcão, dum vidro, nem me olha, olha para um écran de computador como se ele fosse o oráculo de Delfos, um interlocutor preferencial. Escreve a custo, sai do lugar e vai a umas estantes já meias tombadas pelo peso das pastas das vidas, vidas só daquela repartição - que fará por esse país fora...! - volta, com os olhos ocupados. E de novo estuda, interessado, uma caixa preta ou cinzenta, sempre de costas para mim que não posso "aceder aos meus dados" - e como um galináceo a bicar as teclas, escreve números e siglas.
Pede mais "registrações e comprovações". Estende-me o papel vomitado por outra máquina (ah... tenho de conferir não vá ele /ela terem-se enganado, a prestação, o filho no colégio, a dica da semana, a avó no lar...) para assinar, pelas pontas dos dedos, nem bom dia nem boa tarde, "senha 37" ladra uma televisão quadriculada de As, Bs e Cs. E Ds.
Um enredamento; e eu sou uma simples e única filha que ficou sem pais em três meses, com uma mais que modesta herança para tanta vida trabalhada num "estado", uma fracção dum imóvel que eu desejo mover o mais depressa possível.
Mas para isso, tenho de dar bons saltos, olá se tenho!
Não vá escapar-se-lhes alguma migalha.
Com tanto casa e tanto "calão" ao alto!
Depois de ter "facultado" a uma divisão cartorial (ou notarial?) 5 + 6 documentos, da vida, da morte, do primeiro herdeiro, do segundo herdeiro, da conta bancária, do jazigo, da propriedade... tenho "um appointment", só pode ser, assim coisa importante, His Majesty The State, para o dia x, do mês y.

Eu só me pergunto como anda a dormir esta gente toda, 10 milhões??, ou uma boa parte deles, e como tantos escapam às malhas das autoridades, aduaneiras e outras, como se fintam dos cambalachos, nos bancos, nos julgamentos, como se escapam os dinheiros vivos, os partidários pagos, dos magistrados, dos ministérios (da defesa ou justiça), das leis que andam a boiar à espera do chico espertismo que as saiba cornear.
Leis feridas de morte.
Pela democracia burocrata que persegue, e castiga, e exige, dos cidadãos anónimos, em vez de andar atrás dos ladrões. Sim, os ladrões. Esses que opinam, que botam alarvidades, que são antigos "isto e aquilo", que se acomodaram como vermes ou piolhos nas costuras.
Com diligentes seguidores nos locais públicos. Onde nós pedimos "por favor" que nos ponham em ordem com a ordem estabelecida.

Higiene no pensar. Parcimónia no poder.
Cultura. Bom senso. Honestidade.
Precisam-se.