Friday 29 July 2022

O ano 2020 IX

Bom dia, em boa companhia, à manhã, dispersa a mente.


O passeio que se seguiu: Mosteiro de Santa Maria do Lorvão. Com uma história que vem desde o séc. IX, embora com várias transformações através dos séculos, é digno de uma visita. Li que os monges fizeram do lugar um centro importante de produção de manuscritos e iluminuras, a partir do séc. XII. Além do numeroso espólio clerical ali reunido, foi conforto para "muito boa gente", incluindo princesas e santas. Os túmulos em prata lavrada de duas delas, D. Teresa e D. Sancha, netas de D. Afonso Henriques, ali estão. Foi durante anos um hospital psiquiátrico, ainda o vimos assim: foi fechado em 2012. A degradação do tempo, a incúria e os roubos, dão-lhe um ar de perdido nos séculos, esfumado nas lembranças. Li algures que uma parte vai ser transformada em hotel: que não se perca tudo, já que o nosso património ou é subvalorizado ou abandonado.


Nossa Senhora da Boa Morte (quem nos dera...) também ali está representada: é esta a sua barca de passagem
As imagens são preciosas, moroso seria inscrevê-las todas, ou mesmo algumas: esta estátua de S. Brás (médico e santo) cuida de uma criança engasgada. É considerado o padroeiro das doenças da garganta.







Um realejo do séc. XVIII

e os magníficos 102 cadeirões esculpidos em figura curiosas, em madeira de jacarandá e nogueira


Saímos com vontade de ir à pastelaria mesmo junto ao convento, lanchar e comer os célebres doces conventuais, imaginados e feitos pelas monjas quando recebiam convidados. Todos maravilhosos, como a arte de os confeccionar naquela clausura e solidão. Seria um doce entretimento. Têm, aliás, sabores bons e nomes bem bonitos, como as nevadas, os derriços, manjar divino ou bolo de bispo. Estas especialidades de convento têm muito que se lhes diga, em arte e sabor, e é pena não serem mais divulgadas. Digo eu, em vez da porcaria dos donuts ou mesmo dos pastéis de nata, tão banalizados.

Uma amiga do grupo fica em êxtase com as "nevadas" da sua infância: assim, sendo forte a tentação, comeram-se e também se levaram para casa.

 

Thursday 28 July 2022

O ano 2010 VIII

Entre os campos e muros, na manhã transparente. 

No quintal onde vivi e trabalhei, na minha adolescência, também havia plantação de abóboras: as suas flores eram uma beleza, como estas são, abertas ou em rebento em forma de báculo.



 

Guiar a rega por caminhos escolhidos pelo homem. Nesta altura em que a gestão da pouca água que nos resta é tão importante, parece que "não se aprendeu nada" com os nossos antepassados.

 


Vão-se ver os Moinhos da Serra da Atalhada e visitar o Museu, a eles e moleiros dedicado. Tal como as vinhas e adegas estão em sítios que vale a pena visitar, os moinhos para girar as suas pás elegantes estão sempre no alto, logo lugares que merecem ser vistos e passeados. Aqui ficaram, sem farinha nem moinha, a recordação dos lugares, utensílios e gente de trabalho. 






Na volta, infelizmente, vimos e passámos por um incêndio na serra. Assustador e perigoso para as pessoas, penoso para a natureza das florestas. Passados 12 anos e tendo visto o que se está a passar agora em tantas zonas do país, pergunto-me como e porquê este flagelo, todos os anos repetido.


Esta fotografia já tirada à noite, tem as cores do céu e do fogo, desfocadas. Guardei-a por isso.

Com a visita da menina osga, pelo menos sabemos que os mosquitos são "papados" como alimento! Assim pudesse a Natureza equilibrar-se.



Wednesday 27 July 2022

O ano 2010 VII

Muito me lembro desta vila e seus arredores! Tanto mais que é um lugar castigado ciclicamente pelos incêndios e há dois dias foi de novo falada pelos mesmos motivos. Em 1973/74 tinha uma colega que veio de uma aldeia por ali perto e com quem fui várias vezes "à terra", da sua madrinha e benfeitora. Eu, que não sou de terra nenhuma, nasci num cantinho da cidade, tenho gosto em conhecer as aldeias e a génese dos outros, ouvindo as suas histórias antigas, voltando a ouvir meninas, como eu, de soquetes brancos e olhos interrogativos. Mais tarde, encontrei outra amiga com as raízes e recordações espalhadas por essa região. E é de um passeio e estadia de uns dias, em grupo e com ela, que tenho estas boas recordações. 

À margem do Mondego e à sombra das serras, região onde 70% da área era ocupada por floresta - ... dizia-se, como estará agora?... -, Penacova e arredores tem muito que visitar. Encontramos uma banda a ensaiar num café, jantou-se numa varanda sobre o rio e fomos acomodar-nos entre campos e cultivos.





A lua cobriu as recordações de uma luz dourada e diáfana: uma luz que reflectia de verdade o brilho do sol, o ouro precioso das memórias.

Luso, com a sua fama e beleza de termas do início do outro século, foi o destino da manhã do primeiro dia. Guiando-nos por placas novas, com um olho nas antigas...







Às vezes não sei bem por onde ando...

Colho as imagens como se andasse por um campo de flores. À sorte.


 

O ano 2010 VI

Fico confusa porque sei que "esta" foi a segunda vez visita ao Bombarral mas desta vez acompanhados pela família, para lhes mostrar o Jardim Oriental Bacalhôa Buddha Éden. Trata-se do maior jardim asiático existente na Europa, mandado construir e ornamentar pelo Comendador José Berardo, em memória e protesto pela destruição dos Budas Gigantes de Bamiyan. As duas estátuas gigantes de Buda situavam-se nessa região, Bamiyam no Afeganistão, e foram destruídas em Março 2001, pelo grupo fundamentalista dos Talibans. Um artigo que li da BBC dá pormenores terríveis desta acção. É importante lembrar toda a guerra e destruição que foi levada a cabo nesses anos funestos; e que afinal continuam, por outros meios, com outros intervenientes, por culturas e pessoas que, acima de tudo, deveriam merecer respeito.

Passeia-se um pouco, acho a ideia do lugar encantadora e de tempo repousado.





 
















Tirei imensas fotografias apesar de saber que tudo isto "era novo", sendo apenas cópias de estátuas orientais e guerreiros de Xian. O Jardim da Paz.

Achei tudo muito bem enquadrado, pelos caminhos, construções, lago, árvores e verdes. Depois de mais de uma década, terão já ganho a "patine" do tempo e oxalá tudo se conserve para memória e fruição futuras.