Tuesday 27 June 2023

Lugares muitos

... de que gosto. Isto era para ser, mais ou menos, um arquivo de pensares e fotografias de férias passadas. Nestas coisas soltas surgem porém outras imagens/palavras no dia a dia, como ervas que se plantam a si próprias, pelo vento ou pela água, em todos os lugares em que haja um bocadinho de terra. Entre pedras encontram caminhos inusitados. Pelos sonhos se enraízam.

Mas o que eu gosto mesmo (e também) é das bermas das estradas

onde possa tocar o chão. 




Já pelo meio do dia
 


e pelo meio da tarde

Vindo do Sul para o Norte, alguns apontamentos das terras, da secura ao verde.

Com esta mania que ganhei de tirar fotografias à sorte, mesmo com o carro em andamento...

 


Sunday 18 June 2023

Às vezes...

... tantas, passo e deixo marcas que se perdem algures, em gente que me agrada mas não conheço nem virei a conhecer. Em tempo recuado me chamaram de "ingénua", um rosto com duas caras, um riso de acreditar e um choro onde fica o vazio. Uma credulidade que me persegue desde que me conheço e não consigo "cortar", mais do que ultrapassar. 

Dispo-me, tiro os sapatos, ponho-me descalça, a sentir a pedra e a frieza dos silêncios.

***

"Há "muito ano" que andei pelo Barlavento, perto de Portimão e ficava-se primeiro em Alvor e depois num sítio que era aldeia, em cima do estuário do Arade. Por todos esses lados se circulou com filho pequeno, se viu, se fez a renda das praias todas, até Sagres. Monchique era sempre um gosto, tenho uma fotografia dos anos 80 a falar com um pastor. Silves, uma beleza a ver, seus tons de vermelho. Mas quando começaram multiplicados os aldeamentos, hoteles...as casas cheias de "nobreza pindérica", com nomes estrangeirados e acessos restritos, acabou-se-me a vontade. Faz-se uma diagonal do norte, logo em Santarém se atravessa o Tejo para entrar num dos lugares que mais gosto, além de Trás-os-Montes e Douro interior: Alentejo. O que tenho descoberto é imensidão e muita, muita, beleza, terna, dourada, azul e branca, de terras, e romanos e mouramas. Há mais de uma década que se ruma ao mais recôndito do Sotavento, muito especialmente por poder espraiar o espírito no tal "!Alentejo da minh'alma...". Escolhe-se um lugar de passagem e à volta se anda. Vai-me agora faltando a ??? quê? vontade, idade, coragem, paciência? Ou o pecúlio que me daria outro estar, outro conforto. Mas sim, no presente fica-se menos tempo nas praias e parte das tardes são para percorrer estes montinhos e terras escondidas de nomes simplórios e sorridentes. Tantas vezes tiro fotografias às placas! De tanto lado se vê a costa, o mar, que eu me pasmo sempre. Tavira, Loulé, Olhão são terras ainda belas, no seu poiso de marés ao pé do olhar, ao pé da mão em leque da Ria Formosa, a que está a ser tão desvirtuada. A propósito, vai dar breve uma "Visita Guiada" sobre banhos islâmicos em Loulé, coisa que espreitei já há tempos, acabados de "descobrir e alindar". E já vai longa a conversa..."

assinado em outro lugar: Bettips

A propósito, revi o episódio dos "Banhos Islâmicos" com o prazer das coisas encontradas, e fui ver a data: há um ano, quase acabados de estrear. E visto - uma palavra que eu não uso nem gosto mas aqui tem graça - concomitantemente o Museu com peças arqueológicas de muitos lugares do Algarve. Um prazer (e este prazer, este diálogo entre mim e as coisas, raramente o tenho com pessoas).

Não sei se chegará a vida-minha para tantas descrições e lugares que me acalentaram estes anos. Nem sei se me repito, coisas aqui, coisas ali e acolá. Também não o posso contar de viva voz, faltam-me os espíritos e ouvidos interessados. E eu cada vez detesto mais a banalidade das conversas de conveniência.


Monday 5 June 2023

No intervalo: das férias de Maio 2023

As passagens pelo Alentejo são sempre muito emocionantes. Por mim, ia e vinha, parando naquelas terras todas, a descobrir mais motivos para gostar de lugares, das distâncias, das coisas e das pedras. Desta vez, revisitando o sítio para onde foi transladado o cromeleque do Xerex, que víramos antes da inundação das águas do Alqueva. A fala daqueles amontoados de pedras cuidadosamente dispostas, as mensagens de tão longe no tempo. Quem e para quê? que deuses foram ali adorados ou homenageados? que danças e que premonições? Nem me apetece falar mas apenas olhar.





 

A imagem sem som do dolente cante alentejano, ressoa pela distância, sobrevoa as águas, como um adeus à terra que já não se vê, às aves e árvores submersas.




As surpresas ao lado da estrada, as cores




E, por fim, a visão ao vivo do "Vinho de Talha", os velhos potes alinhados como a história de Ali Babá. Já os tinha visto, em Serpa, mas não verdadeiramente numa adega que os cuida, utiliza e donde sai um vinho que, dizem, é extraordinário. O barro e o sumo em metamorfoses, dias e noites a fio, preservando as tradições. Um lugar, mais um lugar, que nos fica na memória.





Em quatro meses, estarão as uvas pintadas...

O rumo do Sul que, mesmo passando e vendo, já me toma de saudades.

O despojamento.