Wednesday, 20 November 2024

Duas semanas em Lisboa 2011

Publicado o hiato destas (outras) recordações do presente, (re)volto-me para os tempos de mini férias que conseguíamos fazer por fugidas aqui e ali. Novembro 2011, nem acredito: apenas há 13 anos! Neste caso, ficamos duas semanas em C . Ourique, no pequeno e belo apartamento de muito ar e vistas. Estava vago pela grande viagem ao Oriente que o casal andava a fazer...

Durante anos parávamos aqui, pelo caminho. Área de serviço ampla, calma, desimpedida. Sabíamos que faltava uma hora para chegar a Lx. Há tempos esteve em obras e "a concessão" foi dada ou comprada (não li nada sobre isso...). Diz que é o "player" preferido, de um grupo multinacional, só podia! Passou a ter mais comida plástica, tudo muito moderno e cool, até a ouvir passarinhos nas casas de banho, as bacias de lavar as mãos todas translúcidas e em rampa, as torneiras "inteligentes", os bocadinhos de papel higiénico do tamanho da mão (fechada), os secadores tipo motor de ar quente, tudo muito higiénico. Nunca mais lá parámos!
 

Quanto ao lugar, a paisagem, era deslumbrante. Quantas vezes me debrucei na varanda para a frente, nascente e para poente!

E pronto, depois há andar com os olhos motivados por apontamentos que agora me dá gosto ver.

No dia a seguir, já às voltas na cidade, em direcção ao Chiado, as ruas a pé, quando os pés se moviam tão bem!


 

Esta era uma barbearia antiga que verifiquei, algum tempo depois, já não existir


Tal como muitas vezes, muitas... os apelos ao que necessitamos ser e dizer: manifestação "Contra a exploração e o empobrecimento". É para continuar.
 

Estátua do cauteleiro, figuras típicas nas cidades há tantos anos

Os anjinhos papudos, o que eu gosto destas carinhas rubicundas!
Miradouro e jardins tão belos, com aquela luz de Novembro: S. Pedro de Alcântara
Muitas vezes, quando revejo as fotos antigas, dou com estas surpresas: porque é que tirei esta fotografia? E lá descubro o (meu)motivo, aumentando ou aproximando o detalhe: um prédio abandonado, com uma imagem lá dentro, Nª Srª de Fátima? Digamos que a "protecção divina" serve muitos propósitos.

Já tudo anunciava o Natal, mais do que o espírito da quadra, o espírito das compras!
Fernando Pessoa, na meia luz, junto à casa onde viveu: "Ó sino da minha aldeia...", ali atrás a Basílica de Nª Srª dos Mártires e o sino que lhe lembrava "a aldeia imaginária" (dizia ele também "O poeta é um fingidor..")

E também reparei: os telemóveis sempre em acção, agora muito mais. Uma praga quando usada indiscriminadamente.

 

Sunday, 13 October 2024

Pela casa fora...

"mudam-se os tempos" - não se mudam as vontades, em mim. Há traços (comigo) de carácter que sobrevivem há décadas. A tal espécie de figura "Ingénua" que me desenharam aos 14/15 anos?, a preto e branco. Em Outubro e Novembro, andando pela casa e à volta:

Espreitar um rectângulo das janelas e apanhar nuvens soltas avisando-me dos poentes que, se calhar, pouca gente vê: mesmo nas varandas da Foz...
 

Esta(s) luas entre a (minha) árvore que já não existe. Os imponderáveis que parecem sem importância: a morte da minha gata e o corte do acer negundo: foram companhia dos meus afectos.
A pequena planta sobrevivente de avós que tinha na varanda
E uma paisagem que nunca mais haverá: dos prédios desertos e das ruínas até chego a sentir saudades! Tenho, como é hábito nestes tempos, um hotel vistoso já construído, e um prédio de muitos andares e muitos euros que não faço ideia como irá ficar.
Valha-me o Leão e a Águia, as árvores que persistem ali adiante.
Luminosas e teimosas.

Foi esta a ideia que me veio à baila, nestes meses parecidos e diferentes. Nada é o que vejo, muito é o que sinto.

 


Monday, 7 October 2024

No Douro profundo - Intervalo para comemorar os 56 anos

Na hesitação das datas e ocorrências, acabou por se resolver "que sim". Afinal há 56 anos foi o tempo em que passámos alguns dias pelas fragas e lugares do Douro: desde a estrada coleante do Marão e pousada, Pombal de Ansiães, Foz do Tua, Caldas de Aregos, Anreade, Palma, Resende... Um mundo de aldeias de pedras soltas, algumas nobrezas, e vinhedos: não era ainda "território classificado" nem património de coisa nenhuma. Existia, com as raízes modestas das nossas famílias, as histórias de embalar berços ou de migrações para a cidade. Lembro-me que não havia uma casa que não tivesse uma ramada sobre a porta e as paredes da entrada principal. Surgem-me nomes, imagens: como a passagem de diapositivos no (des)valor do tempo e nos desaparecimentos de todos.

Registo do devanear por esse Douro tão transformado: é no lugar que descobrimos nas últimas décadas e onde já levamos tanta gente (contam-se mais do que os dedos da mão, entre amigos e família) que aqui quero recordar. Não íamos lá há 3 anos!

Passagem pelo Alvão, como de costume, estrada bela e alta, de onde se pode apreciar ao longe os vales e montes que atravessa, mesmo de corrida,
infelizmente com muitos buracos negros à margem da autoestrada, pelos incêndios deste ano. Costumo ver os altares de pedras entre verdes

E como há dois pares de olhos e registos, vão todas as que se viram, parecendo repetidas, em pormenores que, para mim, são diferentes. Para nascente, em curvas quase de corpo estendido


 

A imponência da Serra do Marão, como dizem "do lado dos que mandam os que lá estão".


 

O pintor, ainda a começar na hesitação dos seus tons, aqui e ali




Entre oliveiras

Os cachos de uva que ficaram na vinha. Dizem-me, ouço, leio, que há "uma crise" este ano e muitos pequenos produtores não fizeram a vindima. Pergunto-me "quem, como e porquê" numa região única, demarcada desde o Marquês de Pombal, e que devia merecer toda a atenção dos "poderes" regionais e governamentais. Que o turismo não é só flanar entre relíquias e paisagens: assenta no trabalho, tantas vezes duro, dos outros.

Para poente, num abraço de pressa para a foz

 

O ex-libris do único restaurante ali, onde as pessoas se conhecem e reconhecem, pela simpatia e disponibilidade. Pelo vagar com que tratam o forno de lenha, pela excelência dos produtos. Tantas vezes, anos, que almoçámos ali e a qualidade é a mesma.

A subida do monte que se debruça sobre o rio



Um colher de uvas pessoal, para trazermos connosco

Delas se nota o sabor precioso, o labor dos dias que passaram a criar-se. Sempre toco nos troncos retorcidos e negros, sempre me admira a terra de xisto brilhante que parece árida. Adivinho as raízes em convulsões no subsolo, recolhendo a humidade dos nevoeiros, a água da chuva. Um silêncio trabalhoso na terra funda...
Miguel Torga e os seus poemas sobre um dos sítios que amava. Vi num lugar qualquer a sua figura, ali mesmo, em pé sobre uma pedra, em 1985.

Entre o chão já outoniço as flores sobrevivem: e vi borboletas que não consegui captar

Os medronhos
A moldura
Já mais longe, numa terra de vinho especial e pão de tradições


A volta para o Porto, as nuvens ameaçadoras. E o imenso movimento descontrolado das cidades.

Um dia de sol, um dia de deslumbramento.