Uma das coisas mais bonitas - para mim - no andar de avião e sendo hora/tempo claro, é ver o mapa de cima, imaginá-lo de papel; e o que será que estou a ver, que golfo, que península,
que gente em quadrados de terra tão definidos, de cores tão diferentes, que verdes,
que cereais e quintas e prados e casinhas solitárias, que cidades ou vilas,
já Paris ao longe se desenhava, inimaginável o intrincado do rio e da cidade, mas reconhecia La Défense, a Torre Eiffel e o prédio alto de Montparnasse,
visto saber que iríamos aterrar a sul.
Mas a primeira impressão ao atravessar a cidade não foi favorável, achei as ruas sujas e, de passagem, La République pareceu-me degradada. Iria ter essa impressão várias vezes, nos passeios a pé ou de autocarro. Mal sabia eu que, dali a poucos meses, naquela zona iria haver um brutal assalto bombista, de morte, destruição e dor. E era um pouco, como se nas pedras dos monumentos e paredes das ruas, se visse a ameaça à vida comum das pessoas, a inquietação pulsante. Lembrei as palavras de Simon and Garfunkel, "The Sound of Silence", 1966
"And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning
In the words that it was forming.
And the sign said, "The words of the prophets are written on the subway walls
And tenement halls
And whispered in the sounds of silence."
Esta seria a paisagem de todos os dias, de manhã e à noite, com calor, chuva, vento, pássaros: um som de silêncio apenas quebrado pelos sinos da Igreja de S. Vicente de Paulo.