Thursday 21 April 2016

Espanha, a norte e a sul - 1998

Ouvia-se falar de Espanha, um lugar muito longe. Eu tinha de lá uma boneca que dizia "mamã", toda rosada e de cachos castanhos, pestanuda, maior que eu. Fazia-me curiosidade aquela espécie de roda metálica nas costas dela, como se lhe tivessem tirado os pulmões em vez do coração. Por baixo das saias, rendas e cetim, também reparava nas articulações de madeira que a deixavam mover as pernas. Foi a minha madrinha que me trouxe "lá de Espanha" e estava quase sempre guardada no gavetão do guarda-vestidos que eu não conseguia abrir.
Mais tarde, alguém trazia sacas de dropes, como lhe chamavam, castanho claro, que se pegavam nos dentes de leite.
Na escola, estávamos de costas para os espanhóis, fartavam-se de fazer sortidas ao rectângulo: D. Afonso Henriques e outros a seguir, suaram as estopinhas para manter as quebradiças linhas de fronteira. Isto sem pensar nos Filipes! Com 8 ou 9 anos, eu só pensava que os espanhóis eram uns tristes que perdiam todas as batalhas.
A primeira vez que lá fui, no fim dos anos 60, foi ali adiante, a Vigo. Com um casal que se descasou mais tarde (sendo uns amigos que, nos nossos conhecimentos, nos foram mais maus que bons como outros; tantos). As lojas, os chocolates, a vivacidade espanhola, os "pirexes" nos supermercados (o 1º hiper abriria aqui só em 1985!), sabonetes de alfazema e loções, as paisagens, tantos barcos e velas, as ilhas Cies ali tão perto... como gostei de Vigo!
Haveria de lá passar, intermitentemente, em alguns anos e saídas alargadas, com a surpresa de encontrar esplanadas viradas ao mar e gente "mais solta".
Desta vez, salto no tempo e lembro o norte de Espanha, Corunha, 1998:







E, se salto no tempo, também salto no espaço: Ilha Canela, de passagem, lugar que só pelo nome me atraía... Passados mais uns 15 anos, é insuportável! Fica a reflexão modesta.


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