Wednesday 15 February 2017

Redacção: O Alentejo

"Eu gosto muito do Alentejo" - e de outros sítios!
Em várias partes dos meus dias, dos meus tempos, vêm-me à memória os lugares dessa terra, amaldiçoada pelos salazares da época,
essa terra bendita, sofredora e lutadora. Esse imenso rectângulo dentro dum pequeno rectângulo.
Sempre uma descoberta, no campo ou nas vilas. Apaixono-me, muitas vezes.
Por coisas que recordo, por imagens antigas de que descubro os rastos.
Pavia, concelho de Mora, uns mil e tal habitantes. Segundo li, o nome vem de um núcleo de emigrantes italianos (séc.XIII) a quem foi permitido instalar-se aqui. Lembrei-me do dito que tanto ouvi em nova:  "Roma e Pavia não se fizeram num dia".
Os vestígios neolíticos são vários, esta "igreja" feita de um dolmen está no centro da vila.

Os campos são doces, de luz benfazeja e sombras de oliveiras e azinheiras.











Há uma nobreza nestas terras portuguesas do Alentejo, um esforço de brancura, um projecto de desejarem ser harmoniosas. Lugares e Pessoas.


E logo me chamou a atenção - aliás, era uma das coisas que queria ver - a Casa Museu de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957), pintor neo-realista que já conhecia (sem o saber...).

Deixo algumas palavras impressionantes, que retirei da wiki - mais longe não vou... adivinha-se tudo, também pela obra que visitarei demoradamente. E eu, que evito agora "compras" e recordações, comprei um azulejo com uma reprodução de um desenho dele. Forte que lhe era o traço!

Eugénio de Andrade, que o conhecia bem, em Os Afluentes do Silêncio, falou dele: "Esta morte, assim sem mais nem menos, que um amigo me comunica, entala-se-me na garganta. «Morreu o Manuel Ribeiro de Pavia. Levou-o uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria. Passava fome! Tinha uma única camisa! Não pagava o quarto há imenso tempo! E nós a falarmos-lhe de poesia...» Assim é: passava realmente fome. Todos nós o sabíamos. E ele a falar-nos de pintura, de poesia, da dignificação da vida. É justamente nisto que residia a sua grandeza. Não falava da sua fome - de que, feitas bem as contas, veio a morrer. A fome não consta de nenhum epitáfio. ..."



3 comments:

Maria said...

Hoje aterrei aqui estilo 'toca e foge'. Prometo vir aqui com (mais) tempo.
Abraço.

M. said...

Sempre muito belo este pedaço de Portugal.

M. said...

Entre aquele nº 10 de Pavia e o outro de Downing Street imagino que dirás "Entre les deux mon coeur balance". O de Pavia é particularmente bonito com o panejamento amarelo por cima da porta. O outro costuma ter ministros à porta com sorriso "cheese" e apertos de mão trocados e o movimento das cabeças em sentidos opostos. Political matters, I say...