Friday 3 January 2020

A outra Lisboa

Para trás e para a frente, combato aqui as saudades que me dá ao ver
que novos
que curiosos (ainda somos)
que entusiasmados (já não)
na cidade que começávamos a conhecer melhor, a procurar motivos para (nos) explicarmos o imenso tempo em que não íamos "à capital".
Se folhear, se houvesse folhas, Lisboa está indelevelmente ligada à energia vermelha dos cravos do 25 de Abril, o centro dos poderes que estremeceram de vez. Passou-se a ir a reuniões, a rever amigos que voltavam para a nova Pátria em liberdade.
Para esses tempos tão antigos, na Fil, na outra margem, já não há palavras ou fotos que cheguem aqui. Para a Gulbenkian, o Jardim Zoológico, o Chiado antes do incêndio, as avenidas onde me impressionavam as filas/fitas apressadas de carros.
A nossa cidade é um "burgo", como falávamos há dias com uma amiga: as ruas largas e longas não abundam, anda-se muitas vezes em círculo entre pólos (Campanhã, Baixa, Carmo, Boavista, Foz). O rio é verde escuro e apertado num presépio de casas pouco nobres. Não temos um castelo altaneiro, à volta da Sé as ruas eram miseráveis até há pouco mais de uma década.
Um encanto austero, um pouco provinciano.
***
Mas a ideia era apontar os cantos de Lisboa que se foi conhecendo melhor, desde 2007. Uma vista geral que, através dos anos seguintes, fomos diferenciando em passeios e visitas seleccionados.
Basta ir à enciclopédia que agora utilizo em rede... (tendo dado ao desbarato os mais de 20 volumes primorosos, da Verbo, cada um custava 5 contos??? nos anos 80; e o que eu me perdi nas figurinhas...) para saber o nome das coisas.

Passando por baixo do Aqueduto das Águas Livres, até o nome é bonito!

O Mosteiro dos Jerónimos que se visitaria pormenorizadamente mais tarde



E pela primeira vez, turistou-se à volta do elegante monumento do Padrão dos Descobrimentos, reservando olhares aos pormenores, até à espada que nunca tinha notado, espada da Real Casa de Avis.
Depois de desmantelado o padrão anterior, feito propositadamente em 1940 para a Grande Exposição do Mundo Português, foi erguido este que, dizem, está fora do contexto artístico de época (1960) mas que eu acho muito elegante e expressivo. Das navegações.
E como me lembro do Fausto e "Por este rio acima" com todas as letras maravilhosas das canções épicas ou torturadas, que começa precisamente com
"O barco vai de saída, adeus ó cais de Alfama..."
Em forma de caravela estilizada, o monumento foi esculpido por Leopoldo de Almeida.

Interessante ver depois alguns dos notáveis ali representados: o Infante D. Henrique à prôa, seguido do rei D. Afonso V, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral...


Lá vão Bartolomeu Dias e Diogo Cão carregando um Padrão dos Descobrimentos

E do outro lado, espreito a Rainha Filipa de Lencastre. Como havia mais sol e gente, parei a observação mas hei-de ver melhor o Gil Eanes do Cabo Bojador, o Pedro Nunes matemático, o Nuno Gonçalves pintor, o Luís Vaz de Camões escritor... são 32 as estátuas representando as figuras históricas cujo nome e feitos aprendi há tantos anos.
Subindo à torre para a "monumentalidade" de construções e rio espalhado e espelhado. Tendo uma visão geral do CCB e a sua imponência.
A construção começou nos fins dos anos 80: que eu "desdenhei muito" por ser de cavacal ideia, com tantos dinheiros malbaratados da CEE, juntamente com o embandeirar em arco com a nossa entrada na Comissão Europeia.
É sem dúvida um belo edifício, de longe e ao perto. Ir-se-á lá muitas vezes, esquecidos e ultrapassados "os berbicachos" em que Mário Soares, Cavaco e a EU nos meteram a todos.







Por curiosidade... tinha algures fotografias de 1972, creio que tiradas do Cristo-Rei, donde se vê o Estádio do Belenenses de longe, exactamente este aqui acima em tons de azul e de horizonte recortado de prédios.
A antiga paisagem, não antiga tão quanto isso... era esta:

Um espanto? Pena é que, na altura, antes e depois, não tivesse uma máquina "em condições" porque os meus interesses sempre variaram, entre pedras e horizontes...
Verde que te quero verde.


1 comment:

M. said...

Li-te com prazer. E sugeriste-me que fosse buscar Fausto, há tantos anos guardado na estante sem o ouvir. E tanto gosto dele.