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Tuesday, 27 February 2018

Os anos: Camélias

Tudo na vida tem uma história cujas raízes mergulham no tempo.
Pelo menos comigo, nas pessoas, no lugares e espaços antigos em que me foi dado viver.
Reparei que há muitos anos vejo "camélias à solta", elas fazem parte da minha vida de Inverno. Algures, deverei ter escrito que as conheço há mais de 60 anos, seguramente. Porque me lembro delas (e nem lhes sabia o nome) em muito pequena, com 4 ou 5 anos. Ficava fechada no quarto dos meus pais, com uma janela de guilhotina, onde sempre me diziam para não me debruçar. Da janela, falava para baixo com as vizinhas: "que horas são?". Quando me respondiam que eram 5h (da tarde), geralmente era a Custodinha que tinha o relógio de pêndulo na sala, eu ficava em ânsias... Era a hora de saída da minha mãe, do seu trabalho no Hospital, na "alfaiaria", como lhe chamavam: teria depois algum tempo para ir brincar para o pátio, com as crianças que por lá andavam.
Pelas horas da tarde adiante, tinha de me entreter - nem sempre bem, invenções e asneiras, como lhe chamavam, era comigo! Desde ver como é que uma caneta de tinta permanente era por dentro, desde a espalhar sem querer mercúrio-cromo e aparecer às vizinhas como se estivesse ferida, até me pendurar para ver os livros na prateleira alta, virar a mesinha de cabeceira que estava encostada ao contrário contra a parede (para eu não lhe mexer), até andar com os botões do rádio e ouvir "galegaje", como lhe chamava a minha avó (uma vez estraguei-lhe o ponteiro e o meu pai ficou danado), enfim...
Fora as invenções das figuras e monstros na cal das paredes ou a objectividade com que via os animais e formas do mundo no Planisfério: o Canadá sempre me pareceu uma cabeça de coelho!
O certo é que atrás dos telhados em frente se via parte de uma quinta - hoje é um condomínio - que ia desde o Carregal até Miguel Bombarda, muros velhos de heras, árvores altas, até uma palmeira onde se escondia o Lobo Mau. Mas muito especiais eram as japoneiras com camélias, tantas, entrelaçadas, de cores diferentes: essas tenho-as nítidas na memória.
Afinal, a última vez que fui a Vilar de Matos, foi há 11 anos... Março de 2007. Perseguindo uma qualquer informação sobre quintas com camélias. Lembro-me do Snr. Paulino andar por lá e me dizer "só quero morrer no meio delas"...
Desta vez, quando falei com o filho, ele confirmou que morreu assim, quase de repente e sem sofrimento prolongado, perto "das suas meninas".
Mais palavras não tenho, tenho fotografias antigas dele e do lugar.
Que estimo se mantenha, na mesma simplicidade. Onde desejo voltar.
Como se visitasse a infância duma criança, com olhos-brinquedos de solidão.
São estas fotografias algumas das antigas e as mãos do seu tratador: