Wednesday 14 December 2016

Uma escapadela por Serralves

Tenho a noção do tempo que passa a correr e do tempo que perco com os deveres casuais que casualmente são quase todos os dias.
Rever as coisas, fotos, apontamentos, e soltá-los, é uma forma de lembrar os lugares e saídas que são momentos agradáveis da vida.
Com F. vindo para visita e andar na cidade, deu-se uma oportunidade para ir a Serralves, celebrar o Outono e Miró. A história dos quadros da colecção é uma pantomina que tem corrido pelas imprensas e diz-que-diz.
Mas o essencial é que estejam ali reunidos, num lugar tão belo, e que possam ser vistos pelos interessados.
E desde a entrada, o espaço de Siza, os ângulos de céu e paredes brancas, janelas e fontes de luz que sempre me surpreendem.







A construção da casa foi iniciada nos anos 20 do século passado, a partir duma quinta de família que o herdeiro, 2º conde de Vizela, alargou e alterou com a riqueza (ah! os têxteis...) e o gosto da época europeia,  essencialmente parisiense.
Para isso, durante duas décadas,  reuniu inúmeros arquitectos franceses e portugueses (orientados por Marques da Silva) e desenhadores de mobiliário e interiores. Como chegou a consenso entre tantas ideias e projectos sobre uma obra tão equilibrada, em luminosidade e espaço, é um espanto!
Pouco tempo viveu nela, nos anos 40, com a sua companheira Blanche Daubin. Deambulando e lendo a história da casa e os seus recantos, apercebo-me que só um homem multifacetado em cultura e viagens, um homem apaixonado, conseguiria mandar construir com pormenores de - chamo-lhe "riqueza simples"- tanta harmonia e um certo despojamento. Acabou por ser comprada por outro patrão da indústria têxtil, o conde de Riba d'Ave, com a condição de a propriedade e casa não serem repartidas nem alteradas.
Em 1987  foi adquirida pelo Estado, pela então Ministra da Cultura, Teresa Patrício Gouveia. Uma bela aposta!
Nesse mesmo ano, ainda sem o Museu de Arte Moderna de Siza Vieira, fui ver a exposição "Viena 1900 Apresenta-se" na Casa e andei pelo Parque, num misterioso deslumbramento: que era saber que existia e não poder lá entrar.
Os portões e as árvores de Marechal Gomes da Costa guardaram o segredo de um bom-belo-viver que nem se imaginava!








2 comments:

M. said...

Também já por aqui andei (em 2015) nesta casa belíssima. Concordo contigo. Há ali «"riqueza simples" - tanta harmonia e um certo despojamento». E as tuas fotografias têm uma luz dourada que me agrada e me consola os olhos e o sentir.

bettips said...

Agradecida pelo (teu) apontamento nos (meus) apontamentos, que tanto valorizo!