Michel Giacometti (Córsega 1929-Faro1990): tinha sabido que, por sua vontade, foi sepultado em Pêro Guarda.
Herói nacional sob a ocupação nazi em França, chegando a ser preso, homem de sentimentos e actos humanistas e de uma terna sensibilidade, veio para Portugal nos fins de 1959, onde ficou. Percorreu o país todo e fez uma pesquisa exaustiva das nossas canções tradicionais (e de trabalho), salvaguardando-as do esquecimento. Sobre o espólio que juntou, os trabalhos que editou, recordo memórias do filme (anda por aí à venda...) de Alfredo Tropa "Povo que canta", em diversos episódios que foram transmitidos pela RTP em 1970.
Temos um disco dele, muito antigo, não tem data mas imagino-o antes do 25 de Abril,
"Visages du Portugal", edição francesa "Le chant du monde". E quem pensava e estudava "o povo" nesses tempos negros?
Um homem diferente, até no lugar que escolheu para repousar na eternidade. Procurou-se pois, o cemitério da vila que tinha a porta encostada, unicamente fechada por uma aldraba.
A simplicidade dos jarros, as cores dos veios do xisto,
Saiu-se, pensando, no silêncio e nas vozes.
(antes) passei muitas horas em cemitérios: no Prado do Repouso quando andava no liceu, no de Agramonte, vivendo perto. Parava no esquecimento, as estátuas, os ferros forjados, a singularidade das riquezas familiares que faziam casas para viver depois de mortos. Pacificava-me. Há tão poucos sítios para estar só... Mesmo depois de ter morrido a Avó Vitória, sentava-me perto a falar-a-lembrar-calada, nos terríveis cruzamentos dos meus dias. A vida, como um cavalo solto, a fugir, a escoicear no horizonte, tirou-me o sossego.
Lembro ter procurado o túmulo de Miguel Torga, em S. Martinho de Anta, e de Florbela Espanca, em Vila Viçosa.
Do livro dela "Charneca em Flor":
- Nas coisas luminosas
deste mundo.
A minha alma é o túmulo
profundo
Onde dormem, sorrindo,
os deuses mortos -
Mas logo se sai, para a realidade das charnecas e as lonjuras, o amor pelas coisas vivas e belas,
porque se passaria por umas horas em Ferreira do Alentejo.
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