Friday, 7 January 2022

Os mares do Norte

Labruge. Porque nunca cansa, mar e mar, e o recordo, neste Inverno descontente. Encho os olhos de azuis e sinto o cheiro na casa que me acolhe os pesares ou as (a)venturas, de tantas lembranças. 

Desconcertante que as pessoas que há tantas décadas me falavam deste lugar me venham sussurrar ainda os seus tempos, as suas vidas, tão bem que as conheci. Sempre me pergunto: por onde andará a São, a Zé, a M.G.? As primeiras dos tempos de liceu, a outra do emprego, tantos tempos mão-a-mão estivemos. Mas os olhares, a cumplicidade, o toque, o abraço, estão tão longe! Como é possível que se esqueçam anos de vida? Nunca o entenderei e, pior ainda para mim, nunca aceitarei. Sinto-me, por vezes, como se andasse num museu de figuras de cera, as faces plasmadas em planos eternos. Seremos todos ou mortos ou muito velhos, antigos e alegres protagonistas dos anos de juventude.

Por uns tempos, há anos, alugámos um andar por ali: sempre acontece que a minha ingenuidade e constante procura me levam a complicações inimagináveis. Dar-me e conviver com pessoas "que não valiam um corno", dito à antiga e à Porto. Por isso, agora me sinto, cada vez mais, com vontade de ... não ter vontades nem desejos de. Quieta na concha de cristal da idade que me vence, pouco a pouco, o entusiasmo.

Mar de Labruge


Mais longe ainda, a Póvoa de Varzim e os seus prédios altos, o Hotel D. Pedro ??? é agora um "conference e beach", já nem estou certa do nome. Certa estou de uma grande festa, um encontro, que eu organizei para algumas centenas de pessoas, clientes e representadas, nos verdes anos 80.


Capela e Castro de S. Paio, ao longe

Lugares que ocupam memórias antigas, com perguntas eternas. Quando e porquê?

 


2 comments:

M. said...

Eu acho que as pessoas vão crescendo de modos diferentes ao longo dos anos, acontece é que quando deixámos de as ver e acompanhar, provavelmente seguimos direcções, interesses, comportamentos mais acabados, no início foi apenas um início, uma descoberta. Na minha opinião é isso que acontece, na maior parte das vezes nem vale a pena lamentar a perda, é assim a vida e quem sabe até ganhámos por desviar o caminho. Nunca o saberemos, por isso o melhor é andar para a frente e fazer como aconselha o Coimbra de Matos.

bettips said...

Pois, compreendo e aceito o que dizes. São muitas, muitas, será meu defeito de as lembrar sem enquadramento no tempo de hoje. Mas... para organizar tudo isto numa cabeça que gira em todos os sentidos, eu precisava de uma consulta com ele! Como já não existe, vamos andando. Com algum amor que sobra. Merci