Saturday 29 July 2023

Ainda na (minha) zona

No final de 36 anos de trabalho, a minha vida resumiu-se em papeis (em Março se teve "a entrevista", em Abril se resolveu o imbróglio). Em Gaia, num advogado da família que sulcou fundo o meu caminho, conheci-os todos, era ele ainda uma criança. Com escritório e documentos para assinar: nada a compensar tantos anos esforçados, nada a declarar, a não ser que, finalmente, fui vencida. Pela doença, pelo  cansaço. Um vácuo de poeira. Fechar a porta, digo, mas penso que para mim está sempre entreaberta. Fica apenas o registo do lugar, fotografia, dessa ida atormentada.

Pelo Carmo, onde me falam as pedras de passagem

A entrada da Faculdade de Ciências. Por ali, no átrio, tenho uma visão que nunca consegui confirmar: a exposição de uma baleia completa, enorme (eu seria muito pequena!) com as suas barbas-dentes e tudo

 

A minha Escola Primária, o mesmo portão, as minhas histórias das colegas, das escadas para as salas, para o pátio do recreio, o corredor para a divisão em pedra, escura e húmida, onde ficávamos sentadas quando chovia. A palmatória, que aliás havia também em casa: a "menina dos 5 olhos"... o medo. Curiosamente, lembro uma única professora, 3ª ou 4ª classe, a D. Elvira, a melhor. E a cara má e corada da "servente" que nos ordenava tal isto e tal aquilo, e castigava: essa não a esqueço

Ida a Penafiel, à Aveleda, com MA. Sempre levo as pessoas com quem me dou (ou dava) aos sítios bonitos ou interessantes que conheço.

Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013), homenagem da Câmara de Penafiel, na "Escritaria" de 2008:

"Não andei pela vida sozinho. Gostei das pessoas detestei algumas ainda hoje detesto, as que se nutrem do suor e da morte das criaturas que para elas são apenas números."


 

Armanda Passos (1944-2021). Descobri tarde as suas figuras de mulher, tantas e coloridas, oníricas, como se viessem de um mundo sensorial, apenas silêncio no olhar, pisando o ar com os seus pés deformados

Em Penafiel, ruma-se à Quinta da Aveleda com os seus cânticos de sol e verde. Por certo tenho a percorrer, novamente, os caminhos das camélias antigas. Deixo a visão de outras flores e outras veredas
"Forget-me-not"

O som e os tons das águas





Um lago e jardim que são um encanto, como um lugar no Oriente




Há uma varanda de vista eterna, para as vinhas e para os montes. Voltamos à Aveleda muitas vezes, apenas deixamos de o fazer quando começaram "as visitas guiadas". 


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