No final de 36 anos de trabalho, a minha vida resumiu-se em papeis (em Março se teve "a entrevista", em Abril se resolveu o imbróglio). Em Gaia, num advogado da família que sulcou fundo o meu caminho, conheci-os todos, era ele ainda uma criança. Com escritório e documentos para assinar: nada a compensar tantos anos esforçados, nada a declarar, a não ser que, finalmente, fui vencida. Pela doença, pelo cansaço. Um vácuo de poeira. Fechar a porta, digo, mas penso que para mim está sempre entreaberta. Fica apenas o registo do lugar, fotografia, dessa ida atormentada.
Pelo Carmo, onde me falam as pedras de passagemA entrada da Faculdade de Ciências. Por ali, no átrio, tenho uma visão que nunca consegui confirmar: a exposição de uma baleia completa, enorme (eu seria muito pequena!) com as suas barbas-dentes e tudo
A minha Escola Primária, o mesmo portão, as minhas histórias das colegas, das escadas para as salas, para o pátio do recreio, o corredor para a divisão em pedra, escura e húmida, onde ficávamos sentadas quando chovia. A palmatória, que aliás havia também em casa: a "menina dos 5 olhos"... o medo. Curiosamente, lembro uma única professora, 3ª ou 4ª classe, a D. Elvira, a melhor. E a cara má e corada da "servente" que nos ordenava tal isto e tal aquilo, e castigava: essa não a esqueço
Ida a Penafiel, à Aveleda, com MA. Sempre levo as pessoas com quem me dou (ou dava) aos sítios bonitos ou interessantes que conheço.
Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013), homenagem da Câmara de Penafiel, na "Escritaria" de 2008:
"Não andei pela vida sozinho. Gostei das pessoas detestei algumas ainda hoje detesto, as que se nutrem do suor e da morte das criaturas que para elas são apenas números."
Armanda Passos (1944-2021). Descobri tarde as suas figuras de mulher, tantas e coloridas, oníricas, como se viessem de um mundo sensorial, apenas silêncio no olhar, pisando o ar com os seus pés deformados
"Forget-me-not"
O som e os tons das águas
Um lago e jardim que são um encanto, como um lugar no Oriente
Há uma varanda de vista eterna, para as vinhas e para os montes. Voltamos à Aveleda muitas vezes, apenas deixamos de o fazer quando começaram "as visitas guiadas".
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