Inspiração para ver as amendoeiras da Terra Fria. Que pretexto! De toda aquela parte de Trás-os-Montes se tinha uma ideia muito concreta, depois de passados os montes, planalto, planalto. E, há tanto tempo, muito longe nos pareceu para chegar a Bragança! 1969/70 ??? Lembro que saímos muito cedo e as nuvens andavam a correr pelos vales, os quatro amigos debruçados nos muros, abismados sobre abismos, pela primeira vez a passear, longe, juntos e sozinhos.
Lá estão as "voltinhas do Marão" de lembranças! Estrada circulatória à volta dele, depois IP, depois auto qualquer coisa, depois o recente túnel... Quando vejo esta facilidade de trânsito, necessária mas que nos tira a visão e o fôlego, onde só se pode parar nas áreas de serviço bem delimitadas, ou se vai entre barreiras contra o ruído, dá-me uma certa tristeza: interessa apenas a pressa, o destino para onde se vai, o caminho não se vê...
Desta vez indo e a passar por Murça, que é uma terra de que gosto pela sua "porca" em lugar de destaque como estátua. O "berrão", figura zoomórfica muito antiga e de culto celta por terras de Portugal e Espanha: suponho que esta seja mais recente mas é notável, assim no meio da praça.
O Pelourinho tão diferente de outros, as casas datadas e as camélias
Mas enfim, as fotos que ia tirando pelo caminho estão "a fugir", pelo que finalmente se chega a uma estrada onde se pode parar! Com o meu pensamento tantas vezes ardiloso, ponho-me a cogitar em tantas placas que precisavam de ser repintadas e nos desaproveitados "pinta-paredes" que há por todo o lado.
e prata
O que me lembro de ouvir dizer é que os alguns dos "passadores" de gente para o "outro lado" nos anos 60, chegavam aqui a esta terra e diziam, enganando-os, que já tinham chegado a França. Será uma história provável, li uma tese de mestrado da FLUP onde aborda este e outros enganos da emigração clandestina. Mas as memórias são curtas e controversas, tal como na Guerra Colonial, poucos se dispõem a contar as verdades cruas, incómodas e doridas.
Estamos, entretanto, em Montesinho, a aldeia e o alojamento.
Entre o recuperado e a história que nos contaram, um turismo rural de espaços muito reduzidos embora com gente muito amável. Mas o gosto de estar tão longe e a pensar nas voltas a dar, os bons ares e a boa comida, quase nos fazem esquecer "que estas coisas não são para velhos".
E reparo no espantoso equilíbrio desta pedra ao alto e troncos que seguram uma varanda.
Saiu assim, desconcertado, este espaçamento entre fotos. Algo vai mudando nas coisas de hábitos, tanto aqui como na vida, dia com dia.
Resta-me adaptar. Ou não.
1 comment:
Belíssimo o convívio entre madeiras e pedras.
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