Monday 7 October 2024

No Douro profundo - Intervalo para comemorar os 56 anos

Na hesitação das datas e ocorrências, acabou por se resolver "que sim". Afinal há 56 anos foi o tempo em que passámos alguns dias pelas fragas e lugares do Douro: desde a estrada coleante do Marão e pousada, Pombal de Ansiães, Foz do Tua, Caldas de Aregos, Anreade, Palma, Resende... Um mundo de aldeias de pedras soltas, algumas nobrezas, e vinhedos: não era ainda "território classificado" nem património de coisa nenhuma. Existia, com as raízes modestas das nossas famílias, as histórias de embalar berços ou de migrações para a cidade. Lembro-me que não havia uma casa que não tivesse uma ramada sobre a porta e as paredes da entrada principal. Surgem-me nomes, imagens: como a passagem de diapositivos no (des)valor do tempo e nos desaparecimentos de todos.

Registo do devanear por esse Douro tão transformado: é no lugar que descobrimos nas últimas décadas e onde já levamos tanta gente (contam-se mais do que os dedos da mão, entre amigos e família) que aqui quero recordar. Não íamos lá há 3 anos!

Passagem pelo Alvão, como de costume, estrada bela e alta, de onde se pode apreciar ao longe os vales e montes que atravessa, mesmo de corrida,
infelizmente com muitos buracos negros à margem da autoestrada, pelos incêndios deste ano. Costumo ver os altares de pedras entre verdes

E como há dois pares de olhos e registos, vão todas as que se viram, parecendo repetidas, em pormenores que, para mim, são diferentes. Para nascente, em curvas quase de corpo estendido


 

A imponência da Serra do Marão, como dizem "do lado dos que mandam os que lá estão".


 

O pintor, ainda a começar na hesitação dos seus tons, aqui e ali




Entre oliveiras

Os cachos de uva que ficaram na vinha. Dizem-me, ouço, leio, que há "uma crise" este ano e muitos pequenos produtores não fizeram a vindima. Pergunto-me "quem, como e porquê" numa região única, demarcada desde o Marquês de Pombal, e que devia merecer toda a atenção dos "poderes" regionais e governamentais. Que o turismo não é só flanar entre relíquias e paisagens: assenta no trabalho, tantas vezes duro, dos outros.

Para poente, num abraço de pressa para a foz

 

O ex-libris do único restaurante ali, onde as pessoas se conhecem e reconhecem, pela simpatia e disponibilidade. Pelo vagar com que tratam o forno de lenha, pela excelência dos produtos. Tantas vezes, anos, que almoçámos ali e a qualidade é a mesma.

A subida do monte que se debruça sobre o rio



Um colher de uvas pessoal, para trazermos connosco

Delas se nota o sabor precioso, o labor dos dias que passaram a criar-se. Sempre toco nos troncos retorcidos e negros, sempre me admira a terra de xisto brilhante que parece árida. Adivinho as raízes em convulsões no subsolo, recolhendo a humidade dos nevoeiros, a água da chuva. Um silêncio trabalhoso na terra funda...
Miguel Torga e os seus poemas sobre um dos sítios que amava. Vi num lugar qualquer a sua figura, ali mesmo, em pé sobre uma pedra, em 1985.

Entre o chão já outoniço as flores sobrevivem: e vi borboletas que não consegui captar

Os medronhos
A moldura
Já mais longe, numa terra de vinho especial e pão de tradições


A volta para o Porto, as nuvens ameaçadoras. E o imenso movimento descontrolado das cidades.

Um dia de sol, um dia de deslumbramento.

 



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